sábado, 24 de abril de 2010

Papa aplica "tolerância zero" e começa a afastar bispos envolvidos com pedofilia

O Papa Bento 16 aceitou, esta semana, a renúncia de bispos envolvidos direta ou indiretamente em escândalos de pedofilia, em mensagem aos católicos de todo o mundo de que a Igreja não tolerará nunca mais que padres abusem sexualmente de menores.
A demissão, esta sexta-feira, do bispo belga Roger Vangheluwe, de 73 anos, que admitiu ter abusado de um menor, foi anunciado pelo departamento de imprensa do Vaticano e confirma a nova linha do Papa de aplicar a "tolerância zero" frente à pedofilia.

"Quando ainda era um simples sacerdote e durante um tempo após ser nomeado bispo, abusei sexualmente de um jovem que fazia parte do meu entorno", confessou Vangheluwe em um comunicado divulgado também pela Santa Sé.
A renúncia do bispo belga foi aceita com base em uma norma canônica que se emprega em casos excepcionais, o artigo 401, parágrafo 2, do Código de Direito Canônico.

A norma foi aplicada em pelo menos seis ocasiões no último mês e autoriza a aposentadoria por "doença" ou por "outras razões graves", sem especificar quais.
"É verdade que no último mês se aplicou em seis ocasiões. Algo que não é normal", comentou à AFP Davide Cito, especialista em direito canônico.

A norma foi aplicada em pelo menos seis ocasiões no último mês e autoriza a saída por "doença" ou "outras razões graves", sem especificar quais.
"É verdade que no último mês se aplicou em seis ocasiões. Algo que não é normal", comentou à AFP Davide Cito, especialista em direito canônico.

Vangheluwe é o primeiro bispo que renuncia por estar diretamente envolvido no abuso sexual de um menor após a onda de escândalos que castiga a Igreja Católica da Europa e dos Estados Unidos desde o início do ano pelos padres pedófilos e que se estendeu a Brasil e Chile.
Outros clérigos renunciaram aos cargos por terem encoberto os casos de pedofilia durante décadas, política mantida pela hierarquia da Igreja católica.

Entre os que renunciaram por acobertamento está o prelado irlandês Kildare e Leighlin, James Moriarty, que admitiu na quarta-feira que teria podido "questionar a cultura do silêncio imperante" na Igreja de seu país.
Na Irlanda, onde explodiu no começo do ano o escândalo, seis bispos e bispos auxiliares envolvidos em investigações sobre abusos sexuais apresentaram sua demissão ao Papa, quatro das quais foram aceitas.

Na terça-feira, o Papa nomeou novo arcebispo de Miami, ao substituir o monsenhor John Favalora, que administrou esta diocese por 16 anos, durante os quais teve que fazer frente a diversos escândalos por denúncias de abuso sexual cometidos por sacerdotes e ao pagamento de indenizações milionárias.

Favalora saiu seis meses antes de se aposentar, o que surpreendeu vários observadores de assuntos internos do Vaticano.
"O Papa começa a fazer limpeza e resulta mais rigoroso do que se esperava", assegurou à AFP o vaticanista Bruno Bartoloni.

"Também toma medidas exemplares contra os responsáveis de ter encoberto os casos", acrescentou.
Com estas medidas, Bento 16 demonstra "que põe em andamento a operação limpeza, uma batalha moral e espiritual que sente profundamente", comentou por sua vez o vaticanista Marco Politi.

"A anunciada queda de cabeças começa a se cumprir", disse Politi.
A nova fase de "limpeza" interna havia sido anunciada em 20 de março pelo mesmo pontífice na Carta Pastoral dirigida aos católicos irlandeses.

Nela não só manifesta a "vergonha" e os "arrependimentos" de toda a Igreja frente ao escândalo de pedofilia, senão que anuncia que os sacerdotes culpados de abusos sexuais responderão "perante Deus" e ante a Justiça.
"Deve-se admitir que foram cometidos erros de avaliação e que houve falhas de governo", escreveu o Papa no capítulo dedicado aos "irmãos bispos".

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