sábado, 25 de abril de 2009

O Papa e o filósofoNietzsche, grande duelo alemão

"Avante para vossos barcos, filósofos!", exclama em "Gaia ciência". E em "Aurora": "E aonde, portanto, queremos chegar? Além do mar?". Nietzsche e a ideia da liberdade. Do ir além de todo "refúgio miserável". Um pensamento que tem uma responsabilidade grande, reflete Bento XVI citando – como já o havia feito na encíclica Deus Caritas est – seu compatriota filósofo: "Friedrich Nietzsche zombou da humildade e da obediência e as considerou como virtudes servis, que reprimem os homens. Colocou em seu lugar a dignidade e a liberdade absoluta do homem".
A reportagem é de Gian Guido Vecchi, publicada no jornal Corriere della Sera, 10-04-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Palavras muito mais significativas se considerarmos que o Papa, na manhã da quinta-feira na Basílica de São Pedro, falava aos sacerdotes durante a Missa Crismal: diante de cardeais, bispos e presbíteros que "renovam as promessas" antes das celebrações da Páscoa. Uma homilia refinada sobre o sentido da "consagração" como "sacrifício" de si, um "tirar do mundo e entregar a Deus" que, para os sacerdotes, "não é uma segregação", mas um doar-se totalmente, como Jesus, "sacerdote e vítima", que "se entrega ao Pai por nós" e reza pelos discípulos: "Consagra-os na verdade".
É a esse ponto que Bento XVI levantou o olhar: "Como isso está se realizando na nossa vida? Somos verdadeiramente permeados pela palavra de Deus? Ou, antes, o nosso pensamento se deixa modelar incessantemente por tudo o que se diz e faz? Não são talvez as opiniões predominantes os critérios pelos quais nos regulamos muitas vezes?". Daqui a referência a Nietzsche e ao desdenho da humildade em favor da liberdade absoluta. O Papa pede que aprendamos "de Cristo a reta humildade", certamente não "uma submissão errada, que não queremos imitar". E vê um perigo: "Há também a soberba destrutiva e a presunção, que desagregam qualquer comunidade e acabam na violência".
Problema: as coisas estão assim? E até que ponto Nietzsche seria responsável por isso? "O Papa tem perfeitamente razão em se irritar com as liberdades absolutas e as soberbas viris, mas temo que a sua leitura de Nietzsche é afetada por uma interpretação velha", comenta Massimo Cacciari, autor de um ensaio sobre o "Jesus de Nietzsche", um tema que aparece também na sua obra mais recente, "Della cosa ultima".
"A liberdade de Nietzsche é problemática, não é a dos modernos que, pelo contrário, ele critica: sua visão está presente em Schelling, que será retomada por Heidegger, a liberdade não como algo que "tu tens", mas que "te tem". Mas não é suficiente: "O Zarathustra tem páginas em que ele indica na figura do além-do-homem [super-homem] a capacidade de doar tudo, de não ter nada para si: amo aqueles que sabem viver como que se extinguindo, diz. Há passagens em que a afinidade entre o Além-do-Homem e Jesus é fortíssima. De resto, a polêmica de Nietzsche contra o cristianismo está voltada à teologia paulina, entretanto mal entendida, e não à figura sinótica de Jesus".
Segundo Cacciari, enfim, "a grandeza de um filósofo imprescindível para a contemporaneidade deveria ser compreendida em toda a sua complexidade, senão a polêmica danifica a própria pregação como capacidade de assimilar em si as vozes discordantes. Jesus andava com aqueles que o respeitavam, era um narciso? Ou pelo contrário se voltava aos publicanos, ao centurião? 'Eu vos digo que nem em Israel encontrei uma fé tão grande!'. Por que a Igreja não se esforça em fazer o mesmo com Nietzsche e com a cultura contemporânea?".
Emanuele Severino, que dedicou ao filósofo alemão o livro "L'anello del ritorno", sorri: "Aos católicos, digo sempre que é preciso acertar seriamente as contas com a inevitabilidade desses pensamentos". De seu ponto de vista, entende o Papa: "Para a tradição, Deus está no centro da verdade, enquanto Nietzsche, precedido por Leopardi, mostra a impossibilidade de todo eterno e de todo divino. Consequência necessária é a negação de toda 'humildade' com relação ao divino. E a exaltação da liberdade e da soberba". Isso porém não tem a ver com as idéias correntes: "A liberdade de Nietzsche pressupõe que se saiba por que 'Deus está morto'. O ateísmo, o relativismo, o indiferentismo são eles mesmos superficiais e dogmáticos, não têm nada a ver com a radicalidade daquele pensamento. É necessário outra coisa para se chegar a Nietzsche e a Cristo!".
Em tudo isso, um estudioso nietzschiano como Gianni Vattimo reconhece que Bento XVI "tem razão sobre o desdenho da obediência", mas não o da humildade: "Nietzsche é um cristão inconsciente, ou que não queria reconhecer isso: um pouco pelo caminho do pai pastor protestante e um pouco porque amava o Evangelho, mas não a estrutura hierárquica da Igreja, como eu. Penso nas três metamorfoses que abrem o Zarathustra: o espírito do camelo se faz leão e se revolta contra as autoridades, mas no fim se muda em uma criança, 'é preciso uma santa afirmação'. E não era Jesus que dizia que devemos nos tornar como crianças?".
Pode ser, mas o filósofo católico Giovanni Reale não está convencido disso: "Nietzsche escreveu muitas coisas belas e coisas terríveis. O que ele apresentava como uma conquista se revelou terrível, Bento XVI tem razão. No fim, tivemos a liberdade absoluta. Mas, como dizia Bauman, ela chegou com um cartaz com preço, um preço muito salgado: o egoísmo, a solidão". Não é por acaso que o Papa tenha se voltado aos sacerdotes: "Eles têm a responsabilidade de dizer a Palavra. Eu não entendia: por que Jesus não deixou nada escrito? Eu entendi graças a Platão, no final do Fedro: não se escreve a verdade em rolos de papel, mas no coração dos homens".
Fonte: Unisinos

Luta ecológica e o fracasso de Deus na história

Para a maioria das pessoas que crêem em Deus, soa muito estranha, para não dizer herética, a afirmação de que Deus pode ‘falhar’ no seu plano de salvação da história. Como Deus pode falhar? Isso significaria que ele não é todo-poderoso? Mais ainda, isso significaria que a vitória das nossas lutas e as dos povos oprimidos não está garantida pela promessa de Deus?Eu penso que estamos diante de um nó fundamental nas nossas reflexões teológicas e existenciais que fazemos a partir e sobre as nossas esperanças e lutas. Se levarmos a sério o problema de sustentabilidade sócio-ambiental, precisamos abdicar da noção de Deus que, de um jeito ou outro, conduzirá as nossas lutas à vitória e a história humana à plenitude de harmonia e vida. Se reafirmamos a crença de que Deus "é o Senhor da história" e que, por isso, os "justos vencerão", a denúncia deque o nosso estilo de vida e o sistema de produção e consumo de bens representam um grande perigo para o futuro da humanidade não tem muito sentido.Quando uma afirmação teológica ou filosófica de caráter "metafísico" (como a de que história caminha necessariamente para a sua plenitude) entra em contradição com as situações concretas da vida e com as lutas sociais importantes, precisamos repensar essas teorias. As imagens de Deus que a tradição bíblica nos apresenta na sua história desembocam, não na de um Deus todo-poderoso que dirige a história, mas de um Deus-Amor que chama a humanidade para a liberdade/libertação. Amor só é amor quando proposto e vivido na liberdade. Como disse Paulo, "foi para a liberdade que Cristo nos libertou". E na história humana, a liberdade só é liberdade quando há possibilidade de erro e do fracasso. Isto é, em linguagem religiosa, podemos dizer que Deus da liberdade assumiu o risco de que a história pudesse terminar em fracasso, que o seu "plano" pudesse fracassar, para que a humanidade pudesse conhecer a Deus como Amor-Liberdade.Se for assim, qual é então o "papel" de Deus ou da fé em Deus Amor-Liberdade na luta ecológica? Eu quero propor uma pista a partir de um pedido da Irmã Dorothy Stang, feito por telefone ao seu amigo e companheiro de luta Felício, no dia em que foi assassinada: "Felício, nunca desista, está me ouvindo? Você precisa continuar a luta. Você não deve desistir e você não deve abandonar nosso povo, compreende? Você precisa continuar lutando porque Deus está com você’."Qual é a imagem ou noção de Deus que está por trás dessa afirmação-pedido? Com certeza, não é a imagem de um Deus que garante a libertação dos pobres e o encaminhamento da história à sua plenitude. Muito menos, a imagem de um Deus que está por detrás da ordem natural e social, como o seu fundamento. Deus que é invocado ou evocado aqui é um que chama, interpela para a luta para modificar a realidade. Mas, que não garante a vitória dos pobres e nem o cumprimento das promessas de um mundo justo.Deus que aparece no apelo da Irmã Dorothy é um Deus que fundamenta o apelo dela ao seu amigo para que não desista de lutar pelos mais pobres. Nada mais do que isso! Ele precisa lutar porque Deus está com ele! Apesar de todas as dificuldades e frustrações, a Irmã Dorothy, que parece pressentir a sua morte após muitas ameaças e tentativas de assassinato, apela ao seu amigo que não desista, porque Deus está com ele. Deus aparece aqui como um fundamento sem fundo firme, que justifica e interpela para o compromisso com os pobres e injustiçados, e com a defesa da criação. Um fundamento que se sustenta na medida em que responde à interpelação dos mais sofridos e injustiçados, na imaginação utópica de um mundo diferente, social e ambientalmente justo e sustentável. Uma imaginação nascida do desejo de um mundo mais humano e nutrida na recordação dos povos bíblicos ou não que também deram suas vidas por ela.Fonte: Jung Mo Sung
Teólogo, professor de pós-graduação em Ciências da Religião UMES

Liderança errática de Bento XVI gera crise na Igreja

Para o vaticanista Marco Politi, papa governa a Igreja Católica de forma "solitária" e inábil; estilo contrasta com sua atuação intelectual. MARCO POLITI, vaticanista do jornal italiano "La Repubblica" e um dos maiores conhecedores da política interna da Igreja Católica, diz que o pontificado de Bento 16 é errático, e que o ex-prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé se comporta de modo "paradoxal" em relação à sua conhecida clareza intelectual. Para o jornalista, tal estilo tem gestado uma "crise subterrânea" entre os católicos desde que Joseph Ratzinger, que completou ontem quatro anos à frente da instituição, foi eleito papa.
"O paradoxo deste pontificado é que Ratzinger, como teólogo e pensador, é muito claro. Mas, como governante, dá passos falsos e depois é sempre obrigado a pedir desculpas, a se justificar e se explicar", afirma o vaticanista.Para Politi, o padrão existe em parte por causa do estilo de "governo solitário" próprio a Bento 16. O papa, ele diz, "não considera as consultas e não presta atenção aos sinais que vêm do exterior". "Ele, na realidade, tende a decidir tudo sozinho." Autor de diversos livros sobre a igreja -o mais recente, publicado na Itália, é "A Igreja do Não" (La Chiesa del No)-, Politi recebeu a Folha em Roma para esta entrevista.FOLHA - Qual é sua avaliação de Bento 16?
MARCO POLITI - Desde as primeiras intervenções, ele nunca delineou um programa. Insiste no ponto de que é preciso tutelar a integridade da fé. E quer mostrar que o cristianismo é uma fé jovial, não um pacote de regras. Essa é sua convicção profunda, sua linha de pregador, e no entanto sua linha como líder timoneiro, nesses anos, foi a de um constante ziguezague.
FOLHA - Falta união na Cúria?
POLITI - É errado dizer que o papa não consegue governar porque há uma oposição na Cúria [espécie de "ministério" da igreja, formado por cardeais]. A Cúria, por tendência, segue sempre o papa que reina. Mas há uma desorientação dentro da Cúria porque durante o pontificado de Bento 16 houve diversos incidentes que não deveriam ter acontecido. Como, por exemplo, aquele com o mundo islâmico depois do discurso na Universidade de Regensburg [Alemanha], com os lefebvrianos e tantos outros.
FOLHA - Por que o sr. acha que Bento 16 sofre de "solidão"?
POLITI - Bento 16 está sozinho. Não porque exista um partido que trabalhe contra ele. Mas por causa de seu governo solitário, que não considera as consultas e não presta atenção aos sinais que vêm do exterior. O problema é que o papa, na realidade, tende a decidir tudo sozinho. Ele não escuta antecipadamente as sugestões que poderiam evitar a explosão de certos casos.
FOLHA - A decisão de Bento 16 de reabilitar o missal anterior ao Concílio Vaticano 2, que inclui a prece da Sexta-Feira Santa para a conversão dos judeus, provocou críticas do judaísmo. Como o sr. analisa a relação de Bento 16 com os judeus?
POLITI - A questão dos judeus é um exemplo da esquizofrenia que existe neste pontificado. Quero dizer, desde o ponto de vista do governo da igreja, porque, pessoalmente, Bento 16 é muito ligado ao mundo hebraico e à tradição hebraica. Durante a missa de inauguração do seu pontificado, ele falou dos cristãos, dos judeus, mas não falou dos muçulmanos.Porém o seu desejo de encontrar um compromisso com os lefebvrianos fez com que ele, na liturgia pré-conciliar tridentina, admitisse para a Sexta-Feira Santa uma fórmula ambígua que, embora de maneira suave, volta a sublinhar a necessidade da conversão dos judeus.Isso naturalmente provocou mau humor que em seguida explodiu com o caso Williamson. O paradoxo é que ele procurou sempre um compromisso com os lefebvrianos e acabou não conseguindo convencê-los a aceitar o Concílio Vaticano 2.
FOLHA - Bento 16 admitiu falhas na reversão da excomunhão dos lefebvrianos, enviando uma carta aos bispos católicos, na qual reconheceu que existe uma batalha dentro da Igreja "que morde e devora". O senhor acha que há um problema de comunicação dentro da Igreja?
POLITI - O paradoxo deste pontificado é que Ratzinger, como teólogo e pensador, é muito claro. Mas, como governante, dá passos falsos e depois é sempre obrigado a pedir desculpas, a se justificar e se explicar.Foi o que aconteceu com os muçulmanos no discurso em Regensburg. Também aconteceu na viagem ao Brasil, quando afirmou que a evangelização não foi imposta aos índios pelos conquistadores. Igualmente com o caso dos lefebvrianos.A carta que ele escreveu aos bispos do mundo inteiro é um documento da sua sinceridade e também de transparência da sua alma. Ao mesmo tempo é um sinal de fragilidade da sua liderança. Porque quando se diz que na igreja há católicos prontos a atacar o papa, então os casos são dois: ou o pontífice vê cada crítica como um ataque, e isso para um líder é um erro, ou realmente existe abaixo da superfície uma crise profunda da sua liderança.
FOLHA - Bento 16 nomeou o padre Gerhard Maria Wagner como bispo de Linz, na Áustria, e depois recuou. Porque o papa fez essa nomeação?
POLITI - Esse é o caso mais grave, do ponto de vista eclesiástico, da situação problemática da liderança de Bento 16. Porque nos tempos modernos nunca aconteceu que um papa, que para o direito eclesiástico é onipotente, nomeasse um bispo e, depois, a oposição de um episcopado nacional inteiro o obrigasse a cancelar a nomeação.Esse foi o sinal mais grave da crise subterrânea que existe na Igreja Católica.
FOLHA - É possível comparar Bento 16 a Pio 12 que, em 1949, recebeu duras criticas pela excomunhão dos comunistas e outras posições políticas durante a Guerra Fria?
POLITI - Eu não faria esta comparação porque Pio 12, do ponto de vista da liderança, era um papa forte. Ele poderia ser criticado, e foi, mas a máquina do Vaticano funcionava perfeitamente. Enquanto que com Bento 16 temos a impressão de desorientação e estagnação.O papa sente os problemas entre igreja e mundo moderno. Mas é indeciso em fazer escolhas para reformas. Há anos ele tem projetos na gaveta, desde quando era prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Um desses era a reforma para a anulação do casamento, deixando mais poder aos bispos ao invés de centralizar todo o procedimento em Roma como instância final.Esses projetos de reforma também poderiam resolver o problema da comunhão negada aos divorciados que se casaram de novo. Mas Bento 16 parece que não tem a coragem de fazer essas reformas.
FOLHA - O sr. pode comentar o caso brasileiro do arcebispo de Olinda e Recife, que excomungou os adultos envolvidos no aborto em uma menina de 9 anos. O Vaticano reagiu tarde demais?
POLITI - É urgente que a igreja tenha uma atitude mais humana, mais misericordiosa com problemas como o divórcio, o aborto, a pesquisa científica. Uma tomada de posição como a do bispo de Recife, que num primeiro momento foi confirmada pelo Vaticano, é absolutamente impensável e vai contra o sentimento comum dos fiéis. Muitas pessoas devotas e apaixonadas pela própria fé se sentem incompreendidas e distantes da igreja hierárquica. Existe um buraco entre igreja hierárquica e fiéis comuns, e essa não é uma questão de direita ou esquerda.
Marco Politi, vaticanista
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft2004200915.htm

terça-feira, 14 de abril de 2009

Presidente paraguaio Lugo reconhece filho de quando era bispo

O presidente do Paraguai, Fernando Lugo, reconheceu nesta segunda-feira a paternidade de um menino de quase dois anos fruto de uma relação com uma jovem quando ele ainda era bispo da Igreja Católica, um anúncio que ameaça danificar a sua imagem e prejudicá-lo politicamente.
A surpreendente revelação colocou um ponto final nos dias de especulações sobre uma demanda judicial que exigia a Lugo o reconhecimento do menor. Os rumores causaram agitação na imprensa em plena Semana Santa."É certo que houve uma relação com Viviana Carillo. Diante disso, assumo todas as responsabilidades que possam derivar de tal feito, reconhecendo a paternidade do menino," disse Lugo em uma mensagem pela TV."A partir deste momento e atendendo ao interesse superior, a privacidade do menino, e as grandes responsabilidades que ao mesmo tempo o exercício da Presidência me impõem, não formularei mais declarações sobre o tema", acrescentou.O anúncio coincidiu com o início do processo judicial por parte de uma juíza da cidade de Encarnação, após a apresentação, na quarta-feira da semana passada, da demanda por parte de dois advogados, que logo foram desautorizados pela mãe da criança.Segundo o documento, Lugo e a jovem mantiveram uma longa relação que se iniciou quando ele era bispo do Departamento de São Pedro.Lugo renunciou ao sacerdócio para entrar na política e, depois de ter sido eleito presidente no dia 20 de abril de 2008, recebeu uma inédita dispensa do papa Bento 16 para exercer o cargo.
(Reportagem de Daniela Desantis)Fonte: UOL

Série - ROMA (Recomendo)

Primeira temporada

ROMA é uma série de televisão estadunidense que retrata um drama histórico criado por Bruno Heller, John Milius, e William J. MacDonald. A série foi produzida na Itália pela redes de televisão BBC, do Reino Unido, HBO, dos Estados Unidos, e RAI, da própria Itália. Foi transmitida originalmente entre 28 de agosto de 2005 e 25 de março de 2007.
É baseada em acontecimentos históricos na antiga Roma entre os anos 52 e 44 a.C. Inicia com a vitória de Júlio César na batalha de Alésia e acaba com seu assassinato, na primeira temporada são 12 episodios, onde alem da parte historica, ja conhecida nos livros, nos mostra uma roma perversa, suja, degradada, com os patricios ignorando a plebe e ela revoltosa. ao fim da trama, julio Cesar, é assassinado pelos senadores dentro do senado de roma, o ultimo golpe, é dado por Marco Júnio Brutus , filho de Servília, sobrinho de Catão, entretanto, ao morrer no marmore do senado, Cesar não repete a celebre expressão " até Tu, Brutus, meu filho" já que essa frase é de William Shakespeare e não corresponde com a realidade

quinta-feira, 9 de abril de 2009

O HOMEM, O MUNDO E DEUS- Até que ponto há uma relação entre ambos

É preciso que, se descubra quem é esse homem, homem que está no mundo, que é provido de sentimentos e razão. É compreender esse homem na sua totalidade, através de um espírito critico da qual não perca de visto o ponto positivo. O espírito crítico se faz abrir os olhos e enxergar a nossa volta, deixando de lado à cegueira da qual o próprio homem é culpado devido a sua própria recusa, e só querer ver um mundo com ilusões ou aparência.
Kant se preocupa na descrição correta do espírito humano, por isso, ele tenta demonstrar que o entendimento é de tal natureza. Kant vê na divisão da Filosofia em Filosofia teórica e filosofia moral, como uma sendo o domínio da natureza e a outra a liberdade, ou seja, um concerne que o entendimento depende da experiência e outra a ação depende da razão. Mas não se pode negar entre o abismo que se há entre a natureza e a liberdade, de um lado os objetos são dado como um fenômeno e na outra são pensado como a coisa em si. O sensível como objeto do conhecimento e o supra-sensível como objeto pensamento. Na critica ao juízo para Kant este é um problema da qual ele encontra. Portanto a liberdade deve realizar no mundo sensível. As leis naturais devem obedecer ao principio da causalidade, e as leis morais a finalidade. É no juízo que encontra o intermediário, com efeito, distingue em três faculdades essenciais na alma humana: a faculdade cognitiva, o sentimento de agrado e do desagrado, e a faculdade apetitiva. Na faculdade cognitiva o entendimento se da a priori, sua lei; a faculdade apetitiva superior, a razão dá, a priori, a sua lei.. Podemos definir o juízo como a faculdade de pensar o particular universalmente, mas o juízo não necessita atrair para si dependente o particular na natureza ao universal, embora haja na natureza leis que não seja relacionada diretamente a lei a priori.
Visto que as leis gerais da natureza têm seu fundamento no entendimento, que a prescreve à natureza, se que as leis particulares da natureza obedecem a um mecanismo puro, mas a finalidade, idéia da qual fomos conduzidos, é imprescindível para se poder compreender o sistema formado por essas leis. A idéia de finalidade, pois, um conceito a priori, regulador e não constitutivo, serve como intermediário entre a causalidade natural e a finalidade moral; podemos assim dizer que esse juízo nos apresenta de duas formas: pelo juízo estético, ou seja, constatação entre um objeto da natureza e as nossas próprias faculdades, sendo assim acompanhadas do prazer, ao passo de uma constatação inversa, acompanhadas do desprazer teleológico.
Kant define a estética como o belo e o sublime; na analítica do belo, pode-se distinguir os pontos de vista da qualidade, da quantidade, da relação e da modalidade. Um objeto quando responde a uma necessidade desperta o desejo, onde posso vê-lo para experimentarmos o prazer ligado a satisfação. Mas Kant distingue entre sensação e sentimento. A sensação é uma representação objetivas do sentido, e como tal não pode provocar prazer estético que é origem subjetiva. O sentimento é puramente subjetivo, não podendo fornecer a representação de um objeto. O sentimento estético é algo diferente de uma sensação agradável.
O homem é um ser que tem idéias, e tem realidades moldadas pela razão; o homem é também um ser que tem sentimentos e sensação, é nela que se encontra o que é belo, mas um belo ligado a razão, é objeto de satisfação desinteressada. O objeto do belo deve pertencer a toda a condição do homem na sua universalidade. Agora o juízo do gosto é totalmente singular não necessita uma coerência de todos, apenas atribui a cada um uma adesão.
O belo não tem finalidade ligada ao fim, a concordância do objeto com a imaginação é apenas formal, e não está baseado no fim, é preciso manter essa noção de belo distante de qualquer conceito.
É distinguido por Kant duas espécies de beleza: a beleza livre que é simples e a beleza aderente que supõe um conceito. O juízo estético puro é independente do conceito de perfeição.
O belo e o sublime têm em comum a característica de agradarem, por si mesmo de maneira desinteressada, universal e necessária, visto que o sublime não se encontra na natureza, mas no espírito, também é entendido que o belo depende do entendimento, e o sublime da razão. Com efeito, a experiência não no pode apresentar uma grandeza absoluta, esse sentimento do sublime nos tira do mundo sensível e nos abre a porta para o supra-sensível. Por tanto fica claro que a razão nos leva ao absoluto.
Por tanto, conclui-se que o entendimento humano é incapaz de transcender o mundo sensível, contudo entre o entendimento e a razão, existe o juízo que consiste pensar o mundo sensível em referência ao mundo inteligível.


A religião dentro dos limites da simples razão

É visto, portanto um homem que produz idéia da qual procura moldar a realidade, uma realidade da qual faz o homem definir uma idéia de finalidade objetiva e material, ou seja a idéia de um fim da natureza, é uma idéia que tem o sentido de divino Para Kant “a moral que assenta no conceito do homem enquanto ser livre, obrigando-se por si mesmo, por sua razão, as leis incondicionadas, não necessita nem a idéia de um outro ser, superior a ele, para tomar conhecimento do seu dever, nem a de outro móvel que não seja a da própria lei, para observá-la
Autoria: Cristiano Leme

A ESCOLA REFLETE NO CINEMA


Em 28 de MARÇO de 2009, sábado, ocorreu a Segunda Sessão do Projeto a "Escola Reflete no Cinema", que acontece todos os últimos sábados do mês, na Universidade Camilo Castelo Branco - UNICASTELO, com a coordenação do Prof. Dr. Carlos Betlinsk, e nessa 2a.Edição contou com a participação da Profa. Rosa Maciel (Pedagogia), Maximiliano Gomes (Antropologia) e Jean Siqueira (Lógica) com a presença dos alunos, convidados e público em geral. O projeto a "Escola Reflete no Cinema!, visa ao diálogo e reflexão sobre os tópicos do filme exibido. Os professores palestrantes pontualiza, analisa, e contextualiza a aplicabilidade pedagógica dos temas, e consequentemente abre espaço aos alunos para a reflexão.

Nesse cinema o filme passado contava uma história que ocorria na Europa durante a alta idade média, na qual retratava um professor que defendia a idéia de uma república, mas não deixava demonstrar aparentemente para seus alunos, porém tratava-se de uma época onde o pano de fundo se voltava em torno do cristianismo, ou melhor, da Igreja católica, detentora assim do poder. Onde os pais de um menino tinham convicções diferentes um defendendo à república e a mão um católica fervorosa que ensinava a seu filho a existência de um inferno, na qual seu professor que tornará seu grande amigo em sinal de uma confissão o disse que o inferno não existia, era apenas um estado da pessoa, e todas as vezes que era a impedida a liberdade de expressão ali se dava um inferno.O objetivo geral desse filme ela demonstrar a influência da Igreja na cidade, principalmente no âmbito acadêmico, e que as pessoas que defendia um república, era assim considerados anarquistas, comunistas e pela igreja eram chamados de ateus.. O objetivo desse evento que ocorre todo final de mês são os professores da própria faculdade que comentam o filme e sua aplicabilidade pedagógica por meio de discussões sobre os principais tópicos do filme. O objetivo do projeto é que "O aluno-professor aprenda ou reforce segmentos de cultura por meio de filmes".
Ao ser aberto para comentários, vários dilemas e reflexões foram surgidos e levantados a questão até que ponto o professor é tendencioso ou neutro perante suas ideologias diante de uma sala de aula. A liberdade de cátedra do professor lhe da esse direito e qual a visão que a sociedade tem desse professor, que demonstra suas convicções. O filme baseava em torno da liberdade humana, onde as pessoas nascem livres e finalizamos com uma frase do professor do filme a seus alunos: “crianças vocês são livres, agora voem”
Autoria: Cristiano Leme

segunda-feira, 6 de abril de 2009

CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2009- Fraternidade e segurança pública

Este ano, a Campanha da Fraternidade apresenta-nos como tema “Fraternidade e segurança pública” e com o lema: “A paz é fruto de justiça (Is 32,17)”. Com essa campanha visa debater a segurança pública, com a finalidade de colaborar na criação de condições para que o Evangelho seja mais vivido em nossa sociedade por meio da promoção de uma cultura da paz, fundamentada na justiça social. A cada dia chegam a todos os cantos, pelo meio de comunicações noticias de injustiças e violências. Diante de uma sociedade em que vivemos, torna-se cada vez mais insegura, e a convivência com as pessoas torna cada vez mais delicada. Nesse período Quaresmal urge assumir nosso compromisso de cristão autêntico na busca da paz e da concórdia. O objetivo dessa campanha é suscitar a promoção da cultura da paz nas pessoas, na família, na comunidade e na sociedade, afim de que todos se empenhem na construção da justiça social que seja garantia de segurança para todos.
A questão da violência deve ser analisada a fundo, seja para compreendê-la no plano teórico, seja para conhecer como ela acontece na prática. É comum, quando se fala em violência, que se tenha em mente a violência da criminalidade. Porém é preciso atinar para o fato de que, da mesma forma que podemos sofrer a violência, podemos também ser agentes ou causadores dela. Melhor falar em violências. Basicamente, existem três tipos de violência: A estrutural, a física e a simbólica. Cada tipo de violência exige um tipo de abordagem, assim como diferentes encaminhamentos e critérios para sua superação. É importante determinar como a violência torna-se concreta. A estrutural é a negação da cidadania de indivíduos e grupos. A física é vista através de uma realidade corpórea. A simbólica é uma ação que acontece por coação através da força de símbolos, situações, constrangimento, ameaças; pela exploração de fatos ou de situações, com chantagens e humilhações.
É preciso lembrar que além dos tipos de violência, é preciso estar voltado para uma realidade e ver que ela se dá no meio familiar, no nascituro, no campo, contra os povos indígenas, no trânsito, na natureza, na violência policial e contra policial, no universo das drogas, no tráfico humano, na exploração sexual, no mundo do trabalho e nos direitos humanos. Direito, tais, quais não são respeitados nem pelos próprios governantes e que cada vez mais aumenta a desigualdade social. Hoje diante de tudo que se vê, é importante perguntar se as injustiças sociais não são crimes então o que podemos chamar de crimes, e que seria então a construção de uma justiça social a todos?
O poder jamais poderá ser assumido em vista do bem próprio, como meio de satisfação de necessidades e interesses pessoais através da opressão e da violência. Quando então ele significar, de fato, exercício em vista do aperfeiçoamento do outro e torna-se serviço em vista do bem comum, poderá haver segurança e paz. A Igreja é a continuadora da missão de Jesus pelos caminhos da história. Isso quer dizer que todos, conduzidos pelo Espírito Santo, são enviados a evangelizar, tornando pregadores e os construtores da paz. Enquanto Jovens cristãos são convidados a assumir sua identidade, promovendo a paz nas pessoas, na família e na comunidade, valorizando os valores humanos e o respeito ao outro.
Autoria: Cristiano Leme (Filósofo)

Estrutura da Liturgia da Palavra na Missa

Pe. Cristiano Marmelo Pinto[*]
Diocese de Santo André

A Igreja não inventou a liturgia da Palavra. Ela a herdou da liturgia sinagogal judaica. A estrutura da liturgia das sinagogas estava centrada nas leituras bíblicas. Tanto a liturgia cristã como a liturgia judaica atribui à Palavra uma função toda especial e própria, diferentemente de outras religiões que também têm a palavra em seu culto. Não é difícil perceber a passagem da estrutura da liturgia da Palavra da sinagoga para a liturgia cristã, pois Cristo, Palavra viva do Pai, dá, à palavra celebrada, um maior valor.

O testemunho mais antigo de como a liturgia da Palavra estava estruturada em ambiente cristão é de São Justino, por volta do ano 150. “Lêem-se as memórias dos apóstolos ou os escritos dos profetas, quando o permite o tempo... Aquele que preside toma a palavra para exortar... Em seguida, levantamo-nos todos e elevamos nossas orações” (S. Justino, Apologia I, 67).

A liturgia da sinagoga dava-se da seguinte forma: “comportava ela a dupla leitura da Lei e dos profetas, acompanhada de salmos; depois das leituras, situava-se uma explicação ou exortação homilética; finalmente, eram feitas orações para o povo da Aliança (Gelineau, J. Em vossas assembléias, p. 160).

É fácil perceber que apenas se acrescentou a leitura dos apóstolos na liturgia cristã e o evangelho, conservando todos os elementos da liturgia judaica. A liturgia da Palavra vai aparecer de maneira mais elaborada na comunidade cristã por volta do século IV. Nesta época já aparecem quatro elementos constitutivos: as leituras das Escrituras, com a explicação na homilia; o cântico do salmo e hinos; a oração do povo e a oração do presidente. Percebe-se aí dois eixos: o anúncio da Palavra e a oração da comunidade.

A estrutura da liturgia da Palavra é formada dos seguintes elementos: leituras bíblicas (Antigo e Novo Testamento), salmo responsorial, aclamação ao evangelho, homilia, profissão de fé e preces da comunidade. “As leituras bíblicas da Sagrada Escritura, com os cânticos que se intercalam, constituem a parte principal da liturgia da Palavra: a homilia, a profissão de fé e a oração universal ou oração dos fiéis a desenvolvem e concluem” (cf. Ordo Lectionum Missae, 11).

A Primeira Leitura (Antigo Testamento): geralmente a primeira leitura é tirada do Antigo Testamento. No tempo pascal a leitura é extraída dos Atos dos Apóstolos, que trata do início da comunidade cristã iluminada pela ressurreição de Jesus. Elas prefiguram e anunciam a plenitude dos tempos. A primeira leitura é sempre lida na perspectiva da vinda de Cristo.

O Salmo Responsorial: em primeiro lugar é preciso ter consciência que o salmo é Palavra de Deus, e, assim como as demais leituras, “é parte integrante da liturgia” (cf. IGMR – Instrução Geral do Missal Romano, 61). Tem a finalidade de favorecer a meditação da Palavra de Deus. É uma resposta orante da comunidade a esta Palavra. Desta maneira ele prolonga, de forma contemplativa, a primeira leitura. Ele é um dos elementos mais antigos da liturgia da Palavra. Por ter relação com as leituras – mais especificamente com a primeira –, nunca deve ser trocado por outro ou um canto qualquer.

A Segunda Leitura (Novo Testamento): esta leitura é tirada dos escritos dos apóstolos, dos Atos dos Apóstolos, das Cartas e do Apocalipse. Ela atualiza na comunidade cristã a experiência dos apóstolos e das primeiras comunidades, a experiência do Cristo Ressuscitado e do seu Espírito que move a Igreja para a missão e o testemunho. Ela não precisa, necessariamente, ter relação com as demais leituras. Mas, como via de regra, ela mostra como as primeiras comunidades cristãs colocaram na prática os ensinamentos de Jesus.

Aclamação ao Evangelho: antes da proclamação do Evangelho, faz-se uma aclamação. Esta aclamação tem origem na liturgia judaica e ocupa um lugar de destaque na liturgia cristã. Ela é expressão de acolhimento do Cristo que agora vem nos falar. Ao mesmo tempo é manifestação de nossa fé na presença real de Cristo em sua Palavra. Consta de “aleluias” e um versículo, geralmente tirado do próprio evangelho do dia (cf. Estudo 79 da CNBB, p. 128). Durante a quaresma o aleluia é omitido, mas a aclamação ao Evangelho permanece .

Proclamação do Evangelho: o Evangelho é o ápice da liturgia da Palavra. Não é por menos que, para ele, cantamos “aleluias” e nos colocamos de pé. O Evangelho, por exemplo, é quem determina a escolha das outras leituras. A palavra “evangelho” significa boa notícia, mensagem importante, boa nova. É o próprio Cristo que vem nos falar.

A Homilia (atualização da Palavra): a palavra “homilia” significa “conversa familiar”. Não é uma conferência, nem um sermão, muito menos um discurso e nem aula de catequese ou de teologia. Ela é um serviço à Palavra. A homilia procura explicar e atualizar a Palavra na vida concreta da comunidade. A atualização é o coração da homilia. Ela não pode reduzir-se a uma explicação dos dados históricos ou/e teológicos da Palavra de Deus. Isto pode ser muito útil. Mas a comunidade deve perceber de modo claro e preciso a conexão entre Palavra de Deus e sua vida. Ela deve levar os corações à conversão sincera e radical ao Evangelho. É claro que uma homilia não pode tratar de tudo, por isso, ela deve centrar-se em um elemento da Palavra proclamada e aplicá-lo na vida da comunidade.

Profissão de fé (credo): o credo ou profissão de fé tem como objetivo levar toda a assembléia reunida a responder à Palavra que foi proclamada e atualizada pela homilia (cf. IGMR, 67). Recorda e professa o mistério da fé. Tem eixo cristológico, pois nele professamos que “Cristo é o Senhor”. Ele expressa nossa adesão a Cristo de modo que nossa vida seja centrada nele. Inicialmente, a profissão de fé era usada na celebração do batismo. Foi introduzida na liturgia da missa no Oriente.

Oração da comunidade (preces): é uma das práticas mais antigas da nossa liturgia. Ela responde a Palavra de Deus acolhida na fé. É também chamada “oração universal” porque ela expressa a universalidade da Igreja que deve elevar suas preces por toda a humanidade. Há uma ordem na oração da comunidade: pelas necessidades da Igreja; pelos poderes públicos e pela salvação do mundo; pelos que sofrem e pela comunidade reunida (cf. IGMR, 70).

Procurei tratar da estrutura da liturgia da Palavra de maneira breve e objetiva. Fica evidente que, para podermos compreender melhor o seu valor sacramental, precisaríamos de um maior aprofundamento. Porém, não é esta a nossa proposta neste breve texto. Ele quer sim, suscitar nos leitores o desejo de buscar este aprofundamento. Somente assim participaremos ativa e conscientemente da liturgia da Palavra e permitiremos que ela seja eficaz em nossa vida, produzindo aquilo que ela significa e a transformação de nossas vidas.


Para refletir:
1. Qual a origem da liturgia da Palavra?
2. Quais as partes integrantes da liturgia da Palavra?
3. Como perceber Cristo presente na Palavra mediante a estrutura ritual da liturgia da Palavra?

Referências bibliográficas:
ALDAZÁBAL, J. A Mesa da Palavra I: elenco das leituras da missa. São Paulo: Paulinas, 2007.
FARNÉS, Pedro. A Mesa da Palavra II: leitura da Bíblia no ano litúrgico. São Paulo: Paulinas, 2007.
DEISS, Lucien. A Palavra de Deus celebrada. Petrópolis: Vozes, 1998.
CELAM. Manual de Liturgia II: a celebração do mistério pascal fundamentos teológicos e elementos constitutivos. São Paulo: Paulus, 2005.

CNBB coloca limites aos "comentários" na Missa


Publicamos a Nota da Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia aos redatores dos "Folhetos litúrgicos" a respeito das monições (comentários) antes da Liturgia da Palavra:A Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia (CEPL) realizou, nos dias 02 e 03 de julho de 2007, em Aparecida, São Paulo um encontro com os responsáveis pelos "folhetos litúrgicos" do Brasil. O assunto estudado e debatido pelos participantes, com a ajuda de nossos assessores, foram os "comentários" apresentados nos folhetos litúrgicos em diversos momentos da celebração.Com o pleno consenso dos participantes do referido encontro, a CEPL faz um apelo a todos os responsáveis pelos folhetos litúrgicos para que se apresente apenas um comentário para introduzir a Liturgia da Palavra, com a finalidade de preparar e dispor os fiéis a ouvirem atentamente as três leituras (1a. leitura, 2a. leitura e Evangelho). Assim não mais se teria, separadamente, um comentário para cada uma das leituras.Optamos por essa decisão, para darmos mais valor à Palavra proclamada. Esta não pode ser interrompida ou intercalada com comentários e explicações que quebram sua unidade e o ritmo da celebração. A explicação e a atualização da Palavra devem ser feitas em seu local próprio, a homilia.A assembléia litúrgica não é apenas destinatária da ação litúrgica, mas é protagonista, povo sacerdotal, não dependendo de "palavras de ordem" para participar. A liturgia não é apenas "palavra" mas uma ação ritual-simbólico-sacramental. Por isso, muito mais do que um "comentário", é a atitude do leitor, do salmista, do diácono ou do presidente da assembléia que vai ajudar para que a Palavra seja ouvida e acolhida. Neste contexto, para uma frutuosa proclamação e acolhida da Palavra, adquirem muita importância o ambão, sua localização e sua ornamentação; um bom microfone; a veste litúrgica própria dos leitores, um refrão orante.Na celebração litúrgica, as "introduções" prestam o serviço de "iniciar", despertar, dispor a assembléia para a escuta atenta da Palavra. Para usarmos um termo dos Meios de Comunicação Social, estas "introduções" poderiam ser comparadas às “chamadas” que anunciam e preparam a assembléia para a escuta do Senhor.Fundamentamos nosso pedido em dois documentos litúrgicos:a) Sacrosanctum Concilium, 35: “Procure-se também inculcar, por todos os modos, uma catequese mais diretamente litúrgica, e prevejam-se nas próprias cerimônias, quando necessário, breves esclarecimentos, feitos só nos momentos mais oportunos, pelo sacerdote ou ministro competente, com palavras prescritas ou semelhantes às prescritas”.
b) Instrução Geral ao Missal Romano, 31: “Da mesma forma cabe ao sacerdote, no desempenho da função de presidente da assembléia, proferir certas admoestações previstas no próprio rito. Quando estiver estabelecido pelas rubricas, o celebrante pode adaptá-las um pouco para que atendam à compreensão dos participantes; cuide, contudo, o sacerdote de manter sempre o sentido da exortação proposta no livro litúrgico e a expresse em poucas palavras. Pode, com brevíssimas palavras, introduzir os fiéis na missa do dia, após a saudação inicial e antes do rito penitencial, na liturgia da palavra, antes das leituras; na Oração eucarística, antes do Prefácio, nunca, porém, dentro da própria Oração; pode ainda encerrar toda a ação sagrada antes da despedida” .Seria interessante retomar tudo o que o Missal Romano prevê para a celebração da Liturgia da Palavra, com destaque aos momentos de silêncio após cada leitura (cf. IGMR, 128-.134). Aí está claro que os “comentários” não têm a finalidade de dar informações catequéticas ou moralistas, mas devem ser mistagógicos, isto é, conduzir a assembléia à plena participação da ação litúrgica. Devem ser convites de cunho espiritual, sempre discretos, orantes, a serviço do diálogo entre Deus e seu povo reunido, portanto, sem interrupção do fluxo do rito. Vale lembrar um dos princípios na ação litúrgica: “que as nossas palavras na Liturgia não neguem a Palavra, mas a sirvam”. Pedimos também não mais usar a palavra “comentarista” ou “comentário” em nossos folhetos, visto que não é este o espírito das monições apresentadas. Muitos usam a palavra “animador” que, mesmo não sendo a ideal, é a que mais se aproxima da função litúrgica exercida por esta pessoa.Aproveito a ocasião para agradecer aos responsáveis pelos folhetos litúrgicos que estiveram presentes no encontro promovido por nossa Comissão, sua boa vontade e seu empenho em apresentar e ajudar nossas comunidades a bem celebrarem o Mistério Pascal, como Igreja reunida pelo Pai, no amor de Cristo, pela ação do Espírito Santo.Convido a todos para assumirem nosso pedido neste espírito, e desde já os convido para o próximo encontro que será nos dias 30 de junho e 1o. de julho de 2008, em Aparecida, São Paulo.
Aparecida, São Paulo.Brasília, 6 de agosto de 2007Festa da Transfiguração do SenhorDom Joviano de Lima JúniorArcebispo de Ribeirão PretoPresidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia

CELEBRAÇÃO DE ABERTURA DO ANO CATEQUÉTICO

Brasília-DF, 02 de abril de 2009.
Querido (a) Catequista,
"ARDE O NOSSO CORAÇÃO”.....
Em nome da Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética, quero parabenizá-lo/a pelo seu maravilhoso trabalho de evangelização. Sabemos que a sua missão é de grande importância e queremos encorajá-lo/a na pastoral catequética.
O objetivo da catequese é formar “discípulos/as–missionários/as “de Jesus Cristo”, pessoas apaixonadas pela construção do Reino. Você é chamado/a a colaborar conosco para iniciar à vida cristã crianças, jovens e adultos.
Neste Ano Catequético desejamos que você nos ajude a fazer da catequese um verdadeiro caminho de fé. Que a Palavra de Deus esteja no centro da mensagem que você transmite. Sem negligenciar a catequese com crianças e jovens, dê uma atenção especial aos adultos e às pessoas com deficiência. Cuide de sua formação, participe das atividades que a sua comunidade oferece.
No dia 19 de abril, convidamos todas as comunidades a dar destaque especial à abertura do Ano Catequético. Desejamos que este dia seja o ponto de partida do grande trabalho missionário. Os párocos poderiam enviar os/as catequistas para visitar as famílias dos seus catequizandos, levando uma cópia da “capelinha missionária” que o Papa Bento XVI entregou aos presidentes das Conferências de Aparecida.
Valorize o dia do catequista que será celebrado no dia 30 de agosto.
Contamos com as suas orações para o bom êxito da 3ª Semana Brasileira de Catequese, cujo tema é “Iniciação à Vida Cristã”, que acontecerá em Itaici – Indaiatuba (SP), de 06 a 11 de outubro.
Que Deus lhe dê sua bênção nesta sua missão de catequizar,
Dom Eugênio Rixen
Bispo de Goiás
Presidente da Comissão Episcopal Pastoral
Para a Animação Bíblico-Catequética.
Obs.: Nota a ser lida nas celebrações no dia 19 de abril e a ser publicada nos meios de comunicação: jornais, rádios, internet.Colaborador:

Pe Luiz Gonzaga Bolinelli, DC

Dançarina de boate vira freira e ensina 'dança sacra' na Itália

Uma ex-bailarina e ex-acompanhante de homens em boates de Milão se tornou freira há um ano e agora dá aulas de dança contemporânea nos arredores de Roma.
"Antes, eu dançava sobre cubos e fazia 'lap dance' para homens quequeriam apenas meu corpo, estava jogando a vida fora em boatestransgressivas, fazendo sexo sem amor, que procurava como uma droga",disse Anna Nobili, de 38 anos, em entrevista ao jornal La Repubblicanesta sexta-feira.
Anna Nobili entrou para a Congregação das Irmãs Operárias da Santa Casa de Nazaré e fez os votos no final do ano passado.
A dança voltou a fazer parte da vida da religiosa depois que o bispo da cidade de Palestrina, a cerca de 35 quilômetros da capital italiana, ofereceu à freira um espaço no convento para que ela pudesse ensinar passos de dança aos jovens da diocese.
IrmãAnna define o tipo de dança que faz e ensina agora como "holy dance"(ou dança sacra). "Agora, danço para Deus, e meus passos e minhascoreografias são dedicadas a ele", afirma.
Coreografia 'mística'
Comseu grupo de alunos, que se chama "grupo de dança litúrgica HolyDance", irmã Anna vai se apresentar na próxima terça-feira emuma das principais basílicas de Roma, a Santa Cruz em Jerusalém,durante a apresentação do livro Bíblia dia e noite, de Giuseppe Carli e Elena Balestri.
Segundo a tradição, nesta igreja, uma das mais antigas de Roma, estão guardadas relíquias da cruz onde Jesus Cristo morreu.
Ogrupo vai dançar diante de bispos e cardeais uma "coreografia mística",cujo titulo é "Jesus, luz do mundo", inspirada no evangelho segundo SãoJoão.
Além de se apresentar em boates, Anna também participava de programas de televisão como bailarina. Em 1995, ela teve o que definiu como uma "crise mística" e resolveu mudar de vida.
O caminho da conversão ao catolicismo e a decisão de se tornar freira não foram fáceis, segundo a religiosa. "Foi um caminho longo e sofrido", disse irmã Anna.
Iluminação
Na entrevista ao La Repubblica, a religiosa compara sua história a de muitas outras moças. Diz que teve uma infância violenta e sem amor. Seus pais se divorciaram quando ela era pequena e, aos 13 anos, foi viver sozinha em Milão.
"Procurei a felicidade nas luzes do palco e da noite. Os homens gostavam de mim. Descobri a dança, e isso foi um meio para fazer conquistas. Estava no centro das atenções e jogava fora meu corpo", afirmou.
Irmã Anna conta que teve uma espécie de iluminação, depois de tentar mudar de vida várias vezes, inclusive por meio do budismo.
"Fiz uma intimação a Deus: 'se você está aqui, deve dizer pessoalmente, sem intermediários'", disse.
A freira afirma que sua conversão ocorreu ao visitar a Basílica de São Francisco e Santa Clara, em Assis. Diante da basílica, irmã Anna disse que se surpreendeu com as cores do céu, sentiu a presença de Deus e começou a dançar diante das pessoas.
"No trem, de volta a Milão, percebi que Deus havia entrado dentro de mim. No espelho do banheiro, não me reconheci, houve uma transfiguração", diz a freira.
Irmã Anna conta que ainda dançou como profissional de boate mais uma noite e, depois, desistiu.
"Eu poderia ter escolhido uma vida normal, ter uma família, filhos, mas minha busca me levou a uma escolha radical, evangélica. Aos poucos, cortei tudo. Fiz as pazes com meu pai e comecei um processo de purificação", disse.
Colaborador: Rodney

domingo, 5 de abril de 2009

Rabiscos do Paulão - Resenha do filme “ARQUITETURA DA DESTRUIÇÃO” numa perspectiva estética




O filme de Peter Cohen: “Arquitetura da Destruição”, trás uma abordagem sobre o nazismo extremamente interessante, ou seja, uma visão estética do mesmo.
Na contracapa do DVD há algo significativo: “O Nazismo tinha como um dos seus princípios fundamentais a missão de embelezar o mundo. Nem que, para tanto, destruísse o mundo”.
Desde o início o que se vê são influências greco-romanas em praticamente todas as construções alemãs.
A grandiosidade estava presente em tudo. Até nos comícios de Adolph Hitler que tinha uma concepção de belo alicerçada na fixação pela Antigüidade. Atenas, Esparta e Roma eram modelos de beleza a serem imitados. A arte é valorizada pela imitação que pode ser integral (realista) ou idealista. Ao deixarem intactas: Atenas (Grécia) e Paris (França), Hitler mostra sua postura de valorizar a realidade além da obra de arte, seja na sua reprodução, seja tentando melhorá-la. A intenção na construção da Grande Berlim é isso.
Neste primeiro momento posso abordar coisas interessantes em relação à estética.
Inicialmente, cito os norte-americanos H.W. Janson e Antony F. Janson: “A arte é um impulso irresistível do homem em reestruturar a si mesmo e criar um mundo ideal”. Fica a questão: Não era justamente isso que Hitler queria?
Para Hitler, a arte moderna-contemporanêa era uma arte degenerada, uma perversão artística, baseada na Beleza da Feiúra, no Risível, no Trágico, no Cômico. Vêem-se no filme referências explícitas as categorias que pertencem ao Universo da Beleza. Nela não havia a concepção de Belo sonhada pelo Führer. Como arte degenerada, deveria ser “esterilizada” por se tratar de “doença mental” dos artistas. Era algo feio e sendo assim, deveria ser limpa através de um despertar estético clássico.
Hitler determinava o que era obra-de-arte. Sua intenção era criar uma nova Alemanha através dessas concepções estéticas greco-romanas.
Para os alemães, saúde era sinônimo de beleza e começa então a busca desenfreada pela perfeição através da criação do “novo homem alemão” chamado de “o corpo alemão”. Os médicos passam a serem considerados “artistas do corpo”.
No objetivo de eliminar-se o feio, surge o Programa de Eutanásia. O objetivo era exterminar o que era “defeituoso” (busca da perfeição absoluta). O sonho era construir uma nação pura e bela, mesmo que para isso fosse feito uso da “arquitetura da destruição”.
Hitler passa a ter obsessão por eliminar o inseto, o verme que destrói o mundo. Essa bactéria, segundo Hitler, era o povo judeu. Surge o programa chamado: “Instrumento de Embelezamento”, ou seja, o extermínio em massa.
Será que toda a loucura de Hitler, passada para toda uma nação, tinha como alicerce fundamental uma busca pela perfeição estética absoluta? PENSE !!!
Paulo Augusto Loureiro - Filósofo da Unifai

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Concepção Filosófica do Afeto

Na filosofia, entende-se como afeto, em seu senso comum, as emoções positivas que se referem a pessoas e que não têm o caráter dominantemente totalitário da paixão. Enquanto as emoções podem se referir a pessoas e coisas, os afetos são emoções que acompanham algumas relações interpessoais, das quais fica excluída a dominação pela paixão. Daí a temporalidade indicada pelo adjetivo afetuoso que traduz atitudes como a bondade, a benevolência, a inclinação, a devoção, a proteção, o apego, a gratidão, a ternura, etc."Afeição é usado filosoficamente em sua maior extensão e generalidade, porquanto designa todo estado, condição ou qualidade que consiste em sofrer uma ação sendo influenciado ou modificado por ela" Abbagnano (1971). Implica, portanto, em uma ação sofrida. Diz-se que um metal é afetado pelo ácido, e que alguém tem uma afecção pulmonar, mas as palavras afeto e paixão são reservadas aos humanos.Aristóteles chamou de afetivas as qualidades sensíveis porque cada uma delas produz uma afeição dos sentidos. Ao declarar no princípio De anima o objetivo de sua investigação, mostra que visava conhecer, além da natureza e da substância da alma, tudo o que acontece à alma, tanto as afeições que lhes são próprias, quanto aquelas que tem em comum com os animais. Mas, a palavra afeição não só designa o que acontece à alma, como ainda qualquer modificação que ela sofra. Esse caráter passivo das afeições da alma parecia ameaçar a autonomia racional. Daí os estóicos marcarem uma dicotomia que chega aos nossos dias, as afeições e por extensão as emoções seriam irracionais. Com essa polarização o irracional (não humano, ou animal) toma conotação moralmente negativa. Para a afeição são criadas expressões como perturbattio animi, ou concitatio nimia, usadas por Cícero e Sêneca. Vem de muito longe a questão do menosprezo ao afeto como menor, frente ao racionalismo desejável e triunfante. A noção de que a afeição pode ser boa ou má segue até Santo Agostinho e os escolásticos, que mantêm o ponto de vista aristotélico da neutralidade da afeição. Entre o bem e mal, esclarece Santo Agostinho, as afeições precisam ser moderadas pela razão, ponto de vista também defendido por Tomás de Aquino.As questões valorativas sobre a qualidade ou modificações produzidas no ser humano pela afeição (como ação externa) são mantidas na tradição filosófica. É expressa geralmente com a palavra passio e que a partir da metade do século XVIII assume seu significado moderno de paixão.O tema faz parte da reflexão de praticamente todos os filósofos, desde a Antiguidade até nossos dias. Sem esgotá-lo, cada autor traz novas luzes ou novos conflitos sobre o afeto. Spinoza, ao tratar de uma questão anteriormente polemizada sobre a ação da afeição, nomeia seus subprodutos indispensáveis: o agente e o paciente. É essa terminologia que ele usa para definir o que chama de affectus e que nós chamamos de emoções e sentimentos. Ele considera as emoções, os sentimentos e as paixões como impotência da alma que pode ser vencida desde que transformada em idéias claras e distintas. Assim a idéia se distingue apenas racionalmente da emoção. De novo encontramos a desvalorização do afeto como indesejável ou distúrbio, e já apresentado com seu eficiente antídoto, sua redução ou anulação pela racionalidade. Spinoza vai mais longe apontando que Deus é desprovido de idéias confusas e que, portanto, está isento da afeição. Este nos parece um argumento grandiloqüente sobre a racionalidade como a forma mais pura, verdadeira e mesmo divina de exercício da mente humana. Em nossos dias a questão provoca divergências importantes pela concepção de um Deus desumanizado, que por sua racionalidade estaria impedido de amar o que criou ou de acolher os que dele se aproximam. O triunfo dessa racionalidade e a anulação do afeto sugerem uma defesa contra o desconhecido, o incontrolável dos afetos despertados.Esta complicada relação de causa e efeito entre Deus e suas criaturas provoca debates que poderíamos dizer apaixonados. Platão na República, livro VI, diz que "Deus por ser bom não é causa de tudo, como se diz comumente. Para o que há de bem Ele é o único autor, mas para o que há de mal é preciso encontrar a causa fora de Deus". Isto nos leva a dizer que o afeto não é de Deus por ser mau e não se pode reclamar que ele tenha sido criado por Deus. Nessa consideração do afeto entre Deus e os homens poderíamos também tomar as palavras de São Paulo: "a sabedoria dos homens é loucura aos olhos de Deus e a sabedoria de Deus é a loucura aos olhos dos homens". Platão diz também que a sabedoria dos homens é a loucura aos olhos do sábio e que a sabedoria do sábio é loucura aos olhos dos homens. Isto nos remete à questão da falta de objetividade do saber ou das incertezas do que costumamos chamar de verdade, possível na pureza do mundo intelectual, mas sujeita à impossibilidade do encontro de saberes (verdades). Resta-nos fazer uma reflexão sobre qual o caminho da verdade na questão do afeto, tão sujeita a juízo de valor.É bom lembrar que essas questões inconciliáveis do afeto estão permeadas pelo sofrimento humano. A submissão na fé ou a aceitação complacente das concepções religiosas podem ser questionadas pelo que se costuma chamar de livre pensamento. Mas, este caminho tantas vezes considerado como uma espécie de razão humana, não é senão um outro tipo de afeto, chamado sentimento de liberdade. Esta palavra mágica é, entretanto, relacionada à razão humana e se constitui um orgulho nosso. Aqui vale lembrar uma importante reflexão de Nietzsche (1881): "é este orgulho, porém, que nos torna hoje quase impossível sentir como os imensos períodos de moralidade do costume que precederam a história universal como a verdadeira e decisiva história que determinou o caráter da humanidade, em que o sofrimento era virtude, a crueldade era virtude, a dissimulação era virtude, a vingança era virtude, a negação da razão era virtude, enquanto o bem-estar era perigo, a compaixão era perigo, ser objeto de compaixão era ofensa, a loucura era coisa divina, a mudança era imoral e prenhe de ruína!" O filósofo ainda de modo provocativo pergunta se é possível acreditar que isso tudo mudou e conseqüentemente a humanidade trocou de caráter. Sua resposta nos coloca frente à questão do bem e do mal, a virtude e a cobiça. Para Nietzsche este não é um jogo racional, mas o triunfo da crueldade pela adesão à privação e à moralidade. Como vemos, as dificuldades da contingência humana resvalam sempre na questão do afeto, que seria em última instância o filão da possível felicidade humana.
Fonte: Estud. psicanal. n.28 Belo Horizonte set. 2005